A Marcha da Bandeira é um evento anual e atraiu milhares de pessoas que cantavam, dançavam e agitavam bandeiras israelenses logo após a visita do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, de extrema-direita, ao complexo da mesquita de Al-Aqsa, ponto de tensão entre israelenses e palestinos há muito tempo.
Os extremistas, em sua maioria jovens israelenses que vivem em assentamentos na Cisjordânia ocupada por Israel, começaram então a atacar ativistas israelenses de esquerda e jornalistas que observavam a manifestação.
Eles gritavam slogans nacionalistas e pediam violência contra os palestinos, cantando "morte aos árabes".
Um grupo de jovens colonos cuspiu em uma mulher palestina e jornalistas, e a polícia israelense que estava por perto não interveio, afirmou a testemunha da Reuters.
As autoridades policiais não responderam a um pedido de comentário. Nenhuma prisão foi registrada até o final da tarde.
Um policial no local disse que os jovens extremistas israelenses não poderiam ser presos porque eram menores de 18 anos.
Moshe, um colono israelense de 35 anos da Cisjordânia e apoiador do atual governo de direita, caminhou por um bairro palestino da Cidade Velha com um rifle e sua filha nos ombros.
Foi um "dia muito feliz" porque toda Jerusalém estava "sob o governo de Israel", disse ele, recusando-se a informar seu sobrenome.
O líder da oposição de esquerda, Yair Golan, ex-comandante adjunto das Forças Armadas, descreveu as imagens de violência na Cidade Velha como "chocantes".
Em um comunicado, ele afirmou que "amar Jerusalém não se parece com isso. O ódio, o racismo e o bullying é que se parecem com isso".
"Manteremos Jerusalém unida, íntegra e sob a soberania israelense", disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em uma reunião de gabinete realizada em Jerusalém Oriental no início desta segunda-feira.
Um porta-voz da presidência palestina sediada na Cisjordânia condenou a marcha e a visita de Ben Gvir a Al-Aqsa.
"[A guerra em Gaza,] as repetidas incursões no complexo da mesquita de Al-Aqsa e os atos de provocação, como o hasteamento da bandeira israelense na Jerusalém ocupada, ameaçam a estabilidade de toda a região", disse Nabil Abu Rudeineh em um comunicado.
Os confrontos se intensificaram durante todo o dia quando ativistas israelenses de esquerda intervieram para escoltar os palestinos para longe dos jovens judeus israelenses de extrema-direita que ameaçavam os transeuntes.
Jornalistas que cobriam a manifestação foram repetidamente assediados e, em alguns casos, agredidos, disse a testemunha da Reuters.
Mais cedo, Ben Gvir visitou o complexo da mesquita Al-Aqsa na Cidade Velha murada, conhecida pelos judeus como Monte do Templo e pelos árabes como o Nobre Santuário -- terceiro local mais sagrado do Islã.
Em um vídeo filmado no complexo, Ben Gvir disse que o local estava sendo inundado pelos judeus. "Hoje, graças a Deus, já é possível orar no Monte do Templo", disse ele.
Sob um acordo de décadas, o complexo é administrado por um fundo islâmico jordaniano. Os judeus, que consideram o complexo como local de dois templos antigos, têm permissão para visitá-lo, mas não para orar.
Ben Gvir, cuja visita foi condenada pela Autoridade Palestina e pela Jordânia, vem pressionando, junto com integrantes da extrema-direita em Israel, pelo direito de oração dos judeus no local.
A Flag March deste ano coincidiu novamente com a guerra em Gaza, agora em seu 20º mês, e com a escalada das operações militares israelenses contra militantes palestinos na Cisjordânia, onde ataques de colonos contra residentes palestinos estão se intensificando.
A marcha frequentemente eleva a tensão à medida que judeus ultranacionalistas entram em áreas palestinas da Cidade Velha murada de Jerusalém a caminho do Muro das Lamentações, um dos locais mais sagrados do judaísmo, ao lado do complexo da mesquita.
A manifestação de 2021 levou a uma breve guerra entre Israel e o grupo militante islâmico palestino Hamas, que desencadeou a atual guerra em Gaza com seu ataque de outubro de 2023 às comunidades do Sul de Israel.
Israel conquistou Jerusalém Oriental – incluindo a Cidade Velha – da Jordânia na guerra do Oriente Médio de 1967. Os palestinos buscam estabelecer Jerusalém Oriental como a capital de um futuro Estado que incluiria a Cisjordânia e Gaza.
A maioria dos países considera Jerusalém Oriental um território ocupado e não reconhece a soberania israelense sobre ele. Já Israel considera Jerusalém como sua capital eterna e indivisível.
Em 2017, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu toda Jerusalém como a capital de Israel e transferiu a embaixada dos EUA de Tel Aviv para lá.
No domingo, o embaixador dos EUA Mike Huckabee, um cristão evangélico, parabenizou Israel pelo que chamou de reunificação da cidade há 58 anos.
Reportagem adicional de Lee Marzel