VOLTA REDONDA - Na última quarta-feira, a cidade de Volta Redonda testemunhou uma cena alarmante - Fortes ventos, acompanhados de chuva, levantaram um assustador pó preto que pairou nos céus da cidade, evidenciando um problema que há anos aflige seus habitantes: a poluição do ar. Esse fenômeno não é novo, mas a cada chuva ou tempestade, as nuvens escuras se tornam um símbolo crescente da negligência que cerca o tema. No entanto, o que resta à população é apenas uma enxurrada de desculpas e comunicados vazios de órgãos e empresas responsáveis, sem qualquer ação concreta que alivie o sofrimento diário com a má qualidade do ar.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a grande causadora desse cenário sombrio, argumentou que as "grandes dimensões da usina amplificaram o impacto visual das imagens geradas", tentando minimizar a gravidade da situação. Segundo a empresa, essas imagens "não representam emissões atmosféricas, mas sim os efeitos do fenômeno climático sobre a matéria-prima". Tal declaração, além de desviar o foco do real problema, parece desconsiderar a realidade vivida por milhares de moradores, que respiram diariamente o ar contaminado.
Por outro lado, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão que deveria ser responsável por fiscalizar e garantir a qualidade do ar, age de forma tímida e ineficaz. O comportamento do Inea beira à subserviência, como se estivesse comprometido em proteger os interesses da CSN ao invés de zelar pela saúde da população. Um exemplo claro dessa postura foi a recente prorrogação, até 2026, do prazo para a CSN reduzir seus impactos ambientais. Ou seja, mais dois anos de espera, enquanto a população sofre com a poluição desenfreada, como se fossemos a temida Cubatão dos anos 80.
A nota emitida pelo Inea após o episódio do pó preto é um verdadeiro retrato dessa inoperância. O órgão informou que acompanha "junto à Prefeitura Municipal e à CSN, a condição do ar em Volta Redonda" e que uma equipe de fiscalização esteve no local, adotando "medidas necessárias e cabíveis, blá blá blá". Além disso, mencionou o "Programa Estadual de Monitoramento de Partículas Sedimentáveis", conhecido como pó preto, com coletas de amostras que duram 30 dias. Mas a questão permanece: até quando as autoridades vão continuar tratando o problema como uma mera questão técnica, sem abordar a gravidade do impacto na saúde e no bem-estar da população?
A verdade é que, por trás de todas essas palavras e relatórios, os moradores de Volta Redonda continuam expostos a uma poluição que afeta suas vidas de forma direta. Doenças respiratórias, desconforto e a angústia de viver sob um céu cinzento e assustador. A cena presenciada nesta semana é digna de um filme de terror, mas para os habitantes da cidade, é a realidade diária.
É preciso questionar: o que mais precisa acontecer em Volta Redonda para que tanto as autoridades quanto a própria CSN tomem providências reais? Até quando os ventos vão carregar, além do pó preto, as promessas vazias que só jogam palavras ao vento, sem qualquer transformação concreta? É hora de ações que tragam alívio à população e priorizem o direito de respirar um ar limpo. Enquanto isso não acontece, Volta Redonda continuará sendo refém de uma negligência ambiental inadmissível.