Chegamos a mais um Natal! Ruas enfeitadas, luzes brilhando em nossas cidades, em algumas, uma verdadeira obra de arte. Casas enfeitadas, comércio movimentado, carros e pessoas disputando espaço nas ruas: às vezes tenho a impressão de que o mundo vai acabar no dia 26 de dezembro. Mas, todos os anos é assim: correria, compras, mensagens nas redes sociais (parece que o velho cartão de Natal foi aposentado), confraternizações, etc. e acaba sobrando pouco tempo para a espiritualidade, para a vivência do verdadeiro sentido do Natal.
“Maria deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Cf Lucas 2,1-20).
Tenho me perguntado se no mundo moderno tem lugar para Jesus. Para onde olho, vejo sinal do natal, mas não vejo sinal da razão do existir do Natal: JESUS.
Natal não é a festa do papai Noel, mas do verbo divino feito carne, ou seja, feito gente, pessoa humana. Papai Noel, está quase tomando o lugar de Jesus no “novo” natal da sociedade. Não basta cantar “noite feliz”, é preciso fazer nossa introspecção: debruçar-nos sobre o mistério do filho de Deus que se assemelhou a nós, menos no pecado para reacender a chama da esperança no coração de cada ser humano e para manifestar o amor imensurável que Deus tem por suas criaturas.
Enquanto a humanidade dormia na sua autossuficiência, nem os doutores da lei, nem os religiosos do templo, se lembraram da revelação do anunciado Salvador. Naquele tempo, quando o poder romano tudo dominava, o verbo de Deus veio ao nosso encontro, hasteando a bandeira da paz e do amor e da reconciliação. Infelizmente, poucos O esperavam: sua mãe, Maria, José e alguns depauperados, gente simples e pastores desacreditados. Somente o Pai “Aba” nos poderia surpreender tanto assim, pelo mistério desta noite sacrossanta.
Não obstante os abraços e votos de desejo de muita saúde e paz, com muitas festas, comida farta e presentes, continua não havendo lugar para Ele nas casas, nas famílias, nos corações, no mundo todo. Depois de tantos natais do “príncipe da paz”, o mundo está mergulhado em guerras sangrentas que multiplicam sofrimentos, diminuem a esperança, soma mais miseráveis e dividem os custos para o povo pagar. A violência e a desumanidade respondem “presente” em solo brasileiro e as divisões continuam nas famílias e na sociedade. O que está faltando? Trazer de volta a razão do Natal: Jesus Cristo, o festejado esquecido que veio exatamente para trazer a esperança de um mundo melhor, de paz, amor e fraternidade. Seus ensinamentos são caminhos de verdade e vida (João 14,6).
Será que é possível numa situação destas cantar a “noite feliz”? E a missa celebrando o grande presente de Deus para a humanidade? Precisa ser o mais cedo possível por causa da ceia, dos presentes e da reunião da família que é mais importante do que a família do povo de Deus reunida para louvar a Deus pelo grande presente entregue à humanidade: Jesus.
Numa sociedade que mata crianças nas guerras e nas cidades via “balas perdidas”, por que se lembrar de uma criança que nasceu há mais de dois mil anos atrás? Temo que pagaremos um preço elevado por não “arrumar” um lugar para Jesus estar na vida de cada um e na sociedade.
Mesmo assim, Feliz Natal!