Todos os anos, no final do mês de novembro, a Igreja Católica celebra uma importante festa: Cristo Rei do Universo. Certamente que os critérios que temos dos reis terrenos do passado e do presente, não combinam com o estilo de vida de Jesus e sua trajetória histórica. Analisemos alguns pontos importantes:
Para começar, seu núcleo familiar mais próximo era formado por uma moça simples, Maria, da pequena Nazaré, cidade da Galiléia, lugar de gente pobre e simples (Jo 1,46). Seu pai adotivo, José, era carpinteiro, profissão muito comum naquele tempo (Mt 13, 55).
Seu nascimento não foi um acontecimento extraordinário para a sociedade daquela época, muito pelo contrário, já apresentava um nível considerável de rejeição àquela família pobre, pois não restou a José improvisar uma maternidade em uma estrebaria para Jesus nascer pois, não havia lugar para eles nas pousadas de Belém (Lc 2,7).
Ao longo da vida, Jesus foi rejeitado em muitos momentos e por vários grupos sociais, incluindo os líderes religiosos judaicos que fazia da religião um comércio (Mt 21, 13). O episódio da expulsão dos vendilhões do templo foi crucial para sua condenação.
O Rei Jesus subverte a lógica humana quando num jantar de despedida com seus discípulos, toma uma atitude completamente contrária ao costume dos reis daquele época: ao invés dos escravos lavarem seus pés, Ele lava os pés dos presentes (Jo 13, 1-17).
O julgamento fajuto contra Jesus provavelmente ocorreu no palácio onde Pilatos residia quando foi a Jerusalém. Lá eles encontram, numa manhã de abril do ano 30, um prisioneiro indefeso chamado Jesus e o representante do poderoso sistema imperial de Roma, Pilatos.
O evangelho de João narra o diálogo entre os dois. Na realidade, mais do que um interrogatório, parece um discurso de Jesus para esclarecer algumas questões que interessam muito ao evangelista. Num determinado momento, Jesus faz este anúncio solene: “Para isso nasci e para isso vim ao mundo: ser testemunha da verdade. Todo aquele que pertence à verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37).
Esta afirmação capta um traço básico que define a carreira profética de Jesus: sua vontade de viver na verdade de Deus. Jesus não só diz a verdade, mas procura a verdade e só a verdade de um Deus que quer um mundo mais humano para todos os seus filhos.
Portanto, Jesus fala com autoridade, mas sem falso autoritarismo. Fala com sinceridade, mas sem dogmatismo. Ele não fala como os fanáticos, que tentam impor a sua verdade. Nem como os funcionários, que o defendem por obrigação, mesmo que não acreditem nele. Ele nunca se sente um guardião da verdade, mas sim uma testemunha.
Jesus não transforma a verdade de Deus em propaganda. Ele não a utiliza em benefício próprio, mas em defesa dos pobres. Não tolera mentiras nem encobrimento de injustiças. Não tolera manipulação. Jesus torna-se assim “voz dos que não têm voz e voz contra os que têm muita voz” (Jon Sobrino).
A ocultação da verdade é um dos pressupostos mais fortes da atuação dos poderes financeiros e da gestação política sujeita às suas exigências. Querem fazer-nos viver uma realidade desumana com mentiras.
Tudo é feito para esconder a responsabilidade dos causadores dos problemas deste mundo e do sofrimento das vítimas mais fracas e indefesas que são perversamente ignoradas. É urgente humanizar o mundo, colocando no centro das atenções a verdade de quem sofre e a atenção prioritária à sua situação cada vez mais grave.
É a primeira verdade exigida de todos se não quisermos ser desumanos. A primeira informação antes de tudo. Não podemos habituar-nos à exclusão social e à desesperança em que caem os mais fracos. Os seguidores de Jesus devem ouvir a sua voz e instintivamente sair em defesa dos últimos. Quem é da verdade escuta a sua voz. Quem tem Jesus por seu Rei escuta Sua voz e escuta a voz daqueles que Jesus nos ensinou a escutar: os indefesos deste mundo.
Fique na paz de Deus!