24/02/2025 às 21h21min - Atualizada em 24/02/2025 às 21h21min

Em busca de uma sociedade mais humana

Pe Clésio Alves Vieira

Pe Clésio Alves Vieira

Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário em Quatis

O mundo está se tornando um lugar de difícil sobrevivência. Além das obrigações rotineiras de toda pessoa, outras vão surgindo e se incorporando ao extenso rol de desafios diários a serem superados. 

 

Não obstante a tecnologia que facilita a vida de cada dia com uma grande e variada gama de tarefas que podem ser resolvidos na palma da mão, surgem novas barreiras, algumas grandes, para enfrentar e superar no dia-a-dia. 

 

Certamente que a massificação da sociedade nas grandes e médias cidades, trouxe vantagens, mas, também, muitas dificuldades, especialmente para aqueles que se deslocaram de pequenas cidades do interior ou das áreas rurais deste imenso País.

 

As estruturas da sociedade são complexas, embora necessárias para sua organização. Essa teia complexa ediversificada serve para a organização das pessoas, podendo formar grupos sociais, às vezes, com papéis específicos de ação. Em muitas situações, o foco iluminador dessas relações tem como projeto a estrutura econômica. 

 

Estas organizações sociais comunitárias que vão construindo a história humana das pessoas que convivem na sociedade, não podem descartar o projeto de Deus. Não faz bem confiar apenas nas forças humanas, querendo superar todos os contravalores presentes no mundo intolerante. 

 

É fundamental apoiar-se na prática da fé, da justiça e da esperança, isto é, na força divina, para construir estruturas robustas, que favoreçam o bem de todos.

 

A ausência das marcas de Deus na sociedade fica patente nos frutos produzidos no dia-a-dia. O nome se enfraquecee a pessoa passa a ser tratada por número: CPF, cadastros diversos, RG etc... E isso pode levar a olhar a pessoa apenas como “coisa, objeto, número, cliente, consumidor etc”. Caminhamos cada vez mais para uma sociedade com profunda carência de compaixão entre os indivíduos, porque tudo toca na razão e despreza as iniciativas do coração. 

 

O Papa Francisco avalia que o mundo perdeu as motivações do coração humano, fazendo com que as pessoas sejam autossuficientes e detentoras da violência, sem o sentimento do coração. São as guerras, a violência urbana, os assassinatos, o feminicídio, a discriminação, o desprezo pelo diferente, etc... 

 

A sociedade enfrenta grandes desafios para criar vitalidade e confiança nas estruturas sociais, porque depende de segurança, de estabilidade e, mais ainda, de superação do individualismo. Mas o caminho se faz através do diálogo, da negociação, porque é muito grande a diversidade e as formas de agir das pessoas, e muitas delas com práticas que não condizem com os objetivos da estrutura social. 

 

Não podemos deixar de incluir nos desafios da organização da sociedade de hoje o tema da espiritualidade como forma de conexão com o transcendente, ou seja, com Deus, que não ocupa mais prioridade na vida de muitos. Falar o nome de Deus não significa sempre viver a vida do jeito que Deus quer. Deus é visto como um ser distante que observa as aventuras humanas neste planeta criado por Ele, sempre pronto a castigar os pecadores e de plantão para atender as demandas dos sofredores que Lhe façam algum tipo de agrado. 

 

Estamos perdendo a finalidade principal da criação: que o ser humano seja feliz aqui e ajude outros a construírem esta felicidade na caminhada histórica rumo a plenitude da vida humana que é a eternidade junto de Deus. 

 

Lentamente, estamos perdendo também a dimensão escatológica da vida, ou seja, a eternidade plena com Deus como finalidade humana, após encerrar a caminhada nesta terra. Estamos diante da dimensão da esperança eterna, daquilo que vai além dos fatos meramente humanos e terrestres. O apóstolo Paulo de Tarso cita a palavra ressurreição como fruto conquistado nos valores da justiça, do amor e de fidelidade ao projeto do Deus da vida. Escreveu o Apóstolo na primeira carta aos Coríntios, capitulo 15 versículo 19: “se temos esperança em Cristo tão-somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens”.

 

Quando se pensa naqueles que não acreditam numa vida após a morte, os interesses egoístas e materiais das pessoasprevalecem e, portanto, há um risco da sobreposição de uma sociedade sem ética e sem respeito à dignidade humana. Para os que acreditam na plenitude eterna da vida, os valores humanos (amor, respeito, justiça, solidariedade, fraternidade, sensibilidade social, defesa da natureza etc) são requisitos indispensáveis para se pensar numa vida em comunhão plena com Deus (cf. Mateus 25). 

 

A religião não é uma ciência exata. É antes de mais nada, uma atitude humana, com todas as suas contradições e por isso não podemos deixar de ressaltar que existem ateus confessos ou negacionistas de uma outra vida que tem atitudes verdadeiramente humanas e indiretamente religiosas muito mais do que muitos que confessam a fé e a crença na vida eterna, vivem nas igrejas e em oração constante, mas a prática de vida desmente as evidênciasreligiosas manifestadas extrinsecamente nas relações humanas que muitas vezes patrocinam.
 

Ainda bem que só Deus está apto a julgar tanta disparidade humana. 

 

Fique na paz de Deus.

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