Dia 4 de agosto é o dia do Padre. Uma data que vai além de uma simples comemoração; é um convite à reflexão, ao reconhecimento e à escuta atenta de uma vocação que carrega em si grandes alegrias, mas também muitas cruzes.
O padre é alguém que, um dia, escutou um chamado silencioso de Deus e, com coragem, respondeu “sim”. Um sim que tem consequências profundas. Ao ser ordenado, o padre deixa sua casa, sua família, seus sonhos pessoais, não para formar uma nova família no modelo tradicional, mas para se integrar a uma grande família: a família do povo de Deus.
Desde então, sua vida se torna serviço. Sua casa passa a ser o coração de muitos. Seu tempo, partilhado entre celebrações, escuta, aconselhamento, ensino, caridade e inúmeras demandas que nem sempre aparecem aos olhos dos fiéis. Sua agenda não tem folga para feriados, fins de semana ou horários fixos. A qualquer hora do dia — ou da noite — alguém pode bater à sua porta, e o padre se coloca a caminho. Seja para visitar um doente, atender uma confissão, consolar uma família, celebrar a Eucaristia ou orientar uma alma perdida.
Mas, apesar de estar sempre cercado de pessoas, o padre muitas vezes está sozinho. Não é raro, por exemplo, que depois de um domingo inteiro de trabalho intenso — com diversas missas, batizados, reuniões e atendimentos — ele volte para casa e encontre apenas o silêncio. Um silêncio que nem sempre é paz. Muitas vezes é cansaço, é angústia, é solidão.
Poucos se lembram de que o padre também é um ser humano. Que sente. Que se fere. Que tem fragilidades. Ele não é um “super-homem espiritual”. Ele também precisa de cuidado. Precisa ser ouvido, acolhido, respeitado. Infelizmente, a compreensão nem sempre vem. A crítica, sim, chega rápida. Dentro e fora da Igreja.
A sociedade, especialmente por meio da mídia, é veloz em apontar os erros dos padres — e é claro que erros precisam ser corrigidos. Mas raramente se dá espaço para mostrar as inúmeras obras boas que os sacerdotes realizam com dedicação, zelo e amor. As escolas, creches, centros de acolhimento, obras sociais, missões em lugares difíceis, consolo em funerais, apoio emocional e espiritual em tempos de crise… tudo isso passa despercebido porque o bem não faz barulho.
E mesmo dentro da própria comunidade eclesial, às vezes o julgamento é impiedoso. Uma falha, um esquecimento, uma palavra mal colocada — e lá estão dedos apontados. Poucos perguntam como está o padre. Poucos param para agradecer, ou simplesmente para escutar. Muitas vezes, o sacerdote enfrenta desafios enormes na gestão de uma paróquia, nas relações humanas, na adaptação pastoral, nos conflitos internos… e tudo isso, muitas vezes, sem apoio, sem descanso, sem o mínimo de empatia.
É por isso que, neste dia, nós padres não pedimos homenagens, nem aplausos, nem títulos. Pedimos algo muito mais essencial e profundo: compreensão.
Compreensão para que as pessoas vejam que somos homens como qualquer outro. Que carregamos nas mãos não só o pão consagrado, mas também o peso da missão. Que, por trás da estola, há um coração que se alegra, que se fere, que precisa de carinho, de presença, de perdão. Que, mesmo no altar, às vezes estamos cansados, inseguros, machucados.
Pedimos respeito — porque, mesmo em nossos limites, não deixamos de amar e de servir.
Pedimos oração — porque sem ela, desfalecemos na missão.
Pedimos presença amiga — porque ninguém caminha sozinho por muito tempo.
Pedimos escuta — porque nossas dores também precisam ser acolhidas.
Pedimos misericórdia — porque também erramos, mas queremos sempre recomeçar.
Neste Dia do Padre, olhe para o seu sacerdote com olhos mais humanos. Agradeça a Deus por sua vocação. Ofereça uma palavra de gratidão, um gesto de apoio, uma oração sincera. Se puder, visite-o, pergunte como ele está, convide-o para um café, demonstre carinho. Não porque ele é “perfeito” — mas porque é um irmão, um servo, um homem que, com fé e esforço, tenta ser sinal de Deus no meio do povo.
Que o Bom Pastor abençoe cada padre, fortaleça seu ministério, e renove todos os dias o dom da vocação. E que nós, povo de Deus, saibamos ser não apenas rebanho, mas também apoio, consolo e companhia para aqueles que dão a vida por amor ao Reino.