06/11/2024 às 11h27min - Atualizada em 06/11/2024 às 11h25min

A eleição de Trump e o que muda nas relações com o Brasil e o mundo

Rafael Moura

Rafael Moura

Apresentador do Programa Bom Dia Cidade, da Rádio Cidade do Aço FM 103,3

A confirmação da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos representa um marco significativo não apenas para a política interna americana, mas também para o cenário geopolítico global. Sua ascensão à Casa Branca após uma campanha polarizada reflete uma vitória que ressoa de maneira especial para o campo da direita no mundo todo. A retórica nacionalista e protecionista de Trump, sua postura nas questões internacionais e seu estilo político único certamente terão desdobramentos profundos, não apenas nas relações dos Estados Unidos com outras potências, mas também em regiões como o Oriente Médio, a Ucrânia e a América Latina.

A vitória de Trump ocorre em um contexto internacional delicado, com a guerra na Ucrânia e tensões no Oriente Médio ainda em ebulição. Seu posicionamento histórico de ceticismo em relação a intervenções militares no exterior e sua ênfase na "América Primeiro" podem sinalizar uma mudança no engajamento dos Estados Unidos com crises globais, incluindo a guerra na Ucrânia. Embora Trump tenha se mostrado crítico das políticas da administração Biden, especialmente em relação ao apoio irrestrito à Ucrânia, é possível que sua abordagem seja mais pragmática. Embora busque preservar a supremacia militar americana, ele pode adotar uma postura mais isolacionista, focando em estratégias que envolvam menos comprometimento militar direto e mais pressão econômica ou diplomática.

No Oriente Médio, Trump tem uma relação estreita com aliados como Israel e a Arábia Saudita. Sua política de "acordos de paz abrahâmicos" ajudou a aproximar países árabes de Israel, e é provável que ele busque expandir essa dinâmica para fortalecer os laços com seus aliados tradicionais. A questão iraniana, que foi um dos pontos centrais de seu primeiro mandato, pode ganhar destaque novamente, com Trump provavelmente adotando uma abordagem mais rígida em relação ao regime de Teerã, especialmente no que tange ao programa nuclear iraniano. No campo das relações bilaterais, a vitória de Trump pode trazer algumas mudanças imporantes nas relações com o Brasil, Argentina e outros países da América Latina.

Durante seu primeiro mandato, Trump teve uma relação particularmente próxima com o então presidente brasileiro Jair Bolsonaro, com quem compartilhava uma visão de mundo similar, especialmente no que diz respeito à economia de mercado e à abordagem conservadora em questões sociais. Além disso, o apoio de Trump ao crescimento de figuras de direita na América Latina parece ser uma das apostas mais evidentes de sua política externa. Javier Milei, presidente da Argentina, é outro aliado ideológico de Trump. Milei compartilha com Trump uma visão de mercado livre, críticas ao socialismo e uma forte postura de combate ao "globalismo". Assim, a aliança entre os dois provavelmente se consolidará, criando uma frente de direita na região.

No Brasil, a relação com o governo de Lula deverá continuar sendo marcada por divergências, mas a proximidade com figuras como Bolsonaro e o apoio ao campo conservador brasileiro, especialmente no Congresso, pode proporcionar uma base sólida de atuação. A relação entre os Estados Unidos e o Brasil, no entanto, não se limita apenas ao campo da política ideológica. Um aspecto interessante dessa nova fase é a postura do governo brasileiro frente à Venezuela e ao regime de Nicolás Maduro. O Itamaraty vem adotando uma linha dura contra o regime venezuelano, inclusive não reconhecendo as controversas eleições em que Maduro se autoproclamou reeleito. O Brasil também se posicionou contra a entrada da Venezuela no BRICS, postura que está em sintonia com a visão de Trump sobre a América Latina. Trump, com sua visão pragmática, tende a valorizar a continuidade dessa postura, especialmente porque a política de não reconhecimento do governo Maduro pelo Brasil está alinhada com seus próprios interesses, como a pressão econômica e diplomática contra a Venezuela.

Em tempo: o anúncio de que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi convidado por Trump para sua posse, feito por Flávio Bolsonaro, é um indicativo claro da continuidade da parceria política e simbólica entre os dois líderes. No entanto, uma dúvida persiste sobre se Bolsonaro poderá comparecer à cerimônia, dado que o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a retenção de seu passaporte há duas semanas, após negado recurso para que ele viajasse ao exterior. Alexandre de Moraes já teria dito a interlocutores que nada muda com a eleição de Trump. Será que até lá (em janeiro) haverá possibilidade de Bolsonaro reverter essa situação?

Embora os impactos diretos da vitória de Trump ainda estejam se delineando, o novo governo promete gerar reações e ajustes significativos no cenário global, particularmente em regiões estratégicas como o Oriente Médio e a Ucrânia. O futuro das relações internacionais está em jogo, e a postura de Trump frente aos desafios globais certamente marcará o rumo dos Estados Unidos na próxima década.
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