Na mitologia grega, Dédalo construiu um labirinto tão complexo que ninguém poderia escapar dele sem auxílio. No centro, o Minotauro espreitava suas vítimas, uma fera que simbolizava o caos e a consequência de ações desmedidas. Jair Bolsonaro, agora réu no Supremo Tribunal Federal, parece caminhar dentro de um labirinto político onde cada passo pode ser tanto um movimento estratégico quanto um tropeço fatal. Seu julgamento pelo STF, por tentativa de golpe e ataque às instituições democráticas, coloca a direita brasileira em uma encruzilhada e pode moldar o futuro da política nacional nos próximos anos.
A decisão do STF (capitaneada pelo Ministro Alexandre de Moraes) de tornar Bolsonaro réu é um marco histórico. As acusações de tentativa de desmantelamento da democracia pesam sobre seus ombros como a rocha de Atlas, um fardo que pode esmagar suas pretensões políticas. A reação de seu círculo mais próximo indica uma aposta arriscada: buscar apoio externo, especialmente do presidente dos EUA, Donald Trump. O ex-presidente parece tentar transformar sua luta em um espetáculo de vitimização política. O fato de um dos filhos de Bolsonaro considerar buscar asilo nos EUA mostra que o clã bolsonarista está disposto a internacionalizar sua narrativa.
Enquanto isso, no Brasil, a direita parece dividida entre apoiar Bolsonaro de forma incondicional e buscar alternativas para a eleição de 2026. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, já parece ensaiar um distanciamento ao afirmar que o julgamento deve ser transparente, sem endossar a tese de perseguição por parte do TSF. Tarcísio de Freitas, de São Paulo, por outro lado, mantém um discurso dúbio, prestigiando Bolsonaro publicamente enquanto é sempre lembrado como um nome forte para a sucessão presidencial. Ele não quer transparecer que está roendo a corda cedo demais e perder apoio da massa bolsonarista mais fiel. Romeu Zema, com um apoio mais discreto, parece medir os riscos antes de dar passos mais largos. A ausência do governador de Minas em eventos recentes pró-Bolsonaro é sintomática: ele pode estar evitando ser tragado por um turbilhão jurídico e político.
Do outro lado do espectro, o presidente Lula enfrenta sua própria Odisséia. Com uma aprovação em baixa histórica de 24%, a insatisfação com a economia e a inflação pode abrir caminho para um retorno da direita em 2026. Pesquisas apontam que, caso as eleições fossem hoje, Bolsonaro venceria Lula em um segundo turno. Soma-se a isso o fato de o presidente estar com idade mais avançada e não ter esboçado o menor esforço (pelo menos até agora) em apresentar algum nome que possa sucedê-lo. Esse cenário reforça o dilema da oposição: vale a pena apostar todas as fichas em um ex-presidente enredado na Justiça ou é hora de procurar um novo líder?
Na mitologia, Prometeu foi acorrentado por desafiar os deuses e roubar o fogo para a humanidade. Bolsonaro pode estar à beira de seu próprio castigo mitológico, sendo consumido pelas investigações e pela possibilidade de inelegibilidade definitiva. No entanto, se conseguir transformar sua narrativa em uma cruzada contra o sistema e mobilizar sua base como mártir, pode emergir como uma fênix renascida, capaz de influenciar decisivamente a sucessão de 2026.
A política brasileira segue como um labirinto intrincado, onde cada jogador busca escapar do Minotauro que pode devorá-los. Bolsonaro, Lula, e seus eventuais possíveis sucessores estão em movimento, tentando encontrar a saída antes que seja tarde demais. O veredito do STF pode ser um marco na história, definindo se Bolsonaro será mais um Ícaro que voou alto demais ou se ainda há espaço para sua ressurreição política. No fim das contas, o Brasil continua vivendo sua própria epopeia política, repleta de tragédias, traições e reviravoltas dignas de uma tragédia grega.