O retorno do delegado Antônio Furtado à 93ª Delegacia de Polícia de Volta Redonda parecia certo. A notícia, amplamente divulgada em veículos de comunicação da região (inclusive com o anúncio de uma entrevista que ele concederia à Rádio Cidade do Aço antes da posse), movimentou as expectativas locais. Furtado, que comandou a delegacia por muitos anos notabilizando-se por sua habilidade de transformar investigações em pautas midiáticas, consolidou uma relação de proximidade com a população. Contudo, no apagar das luzes, a posse não aconteceu. Ele foi designado para assumir a delegacia de Piraí.
A pergunta que não quer calar: o que teria motivado essa mudança de última hora?
Antes de especular, é necessário revisitar a trajetória de Antônio Furtado. Sua atuação à frente da 93ª DP lhe garantiu grande visibilidade, sendo um dos delegados mais populares da região. Em 2016, sua notoriedade o levou à política, candidatando-se a vice-prefeito ao lado de América Tereza. Embora tenham ficado em terceiro lugar, Furtado deu o primeiro passo no campo eleitoral.
Dois anos depois, ele foi eleito deputado federal em meio à onda bolsonarista que dominava o país. Sua votação expressiva o destacou. No entanto, sua performance como coordenador de campanhas municipais de seu então partido (PSL) dois anos depois marcaram um ponto negativo em sua recente trajetória na política. Para completar esse ciclo, a derrota nas urnas em 2022, quando tentou a reeleição para a Câmara, acabou mostrando um desgaste político.
Retornando à Polícia Civil, assumiu a DP de Barra do Piraí, onde manteve sua estratégia de protagonismo midiático. Em 2024, candidatou-se a prefeito, terminando a disputa em terceiro lugar.
Agora voltemos ao episódio da ‘dança das cadeiras’. A notícia de que Furtado retornaria a Volta Redonda gerou burburinhos sobre o impacto de sua volta. Ser delegado em uma cidade tão central da região poderia revitalizar sua imagem pública, fortalecendo sua posição como liderança política e potencial candidato em futuras eleições.
Entretanto, poucas horas antes da sua posse oficial, veio a surpresa: em uma verdadeira reviravolta ele foi realocado para a DP de Piraí.
Embora Furtado não tenha se manifestado oficialmente sobre a mudança, rumores nos bastidores sugerem que houve pressão política para impedir sua nomeação em Volta Redonda. A explicação seria simples: com seu histórico de influência e projeção midiática, assumir a delegacia da cidade poderia colocá-lo novamente em evidência, como um nome forte para futuras disputas eleitorais, algo que não agradaria a certos atores políticos regionais.
Delegacias como a de Volta Redonda oferecem uma plataforma privilegiada de visibilidade. E, para um agente público com ambições políticas como Furtado, isso poderia ser um trampolim eleitoral. Dessa forma, não seria surpresa que líderes políticos com interesses conflitantes tivessem articulado sua transferência para outro município, o que é importante destacar, não foi oficialmente confirmado (e nem será).
Furtado optou por não comentar o caso, possivelmente para evitar embates hierárquicos. No entanto, a questão permanece: houve mesmo interferência política para barrar seu retorno à 93ª DP?
O caso evidencia como o entrelaçamento entre política e segurança pública pode influenciar decisões estratégicas. Seja qual for a verdade, o episódio reforça o papel que a visibilidade e a mídia desempenham na construção de carreiras públicas – seja na polícia, seja na política.