30/04/2025 às 23h34min - Atualizada em 30/04/2025 às 23h34min

Sua mente é mais previsível do que você imagina (e não, isso não é ofensa)

Dr. Fernando Nader

Dr. Fernando Nader

Fernando Nader é médico, que tem entre suas formações, geriatria e neurologia.

Reprodução

A gente se acha super único, cheio de decisões próprias, dono absoluto do raciocínio. Mas a verdade é que nossa mente é regida por um script biológico escrito há milhares de anos — e que, no fundo, nos torna muito mais previsíveis do que gostaríamos de admitir.

 

E o pior: a maior parte do tempo, estamos só repetindo velhos comandos genéticos com uma embalagem moderninha por cima.

 

Vamos aos exemplos que ninguém gosta de ouvir:

 

- Jovens têm mais libido?

Óbvio. Não é charme, nem inspiração divina. É testosterona alta, puro instinto reprodutivo.

É a natureza gritando no ouvido do jovem: “Reproduza, perpetue a espécie!”

Por isso, a impulsividade, a necessidade de conquista, o “fogo” que parece queimar o corpo inteiro. Não é poesia. É biologia.

 

- Medo de altura?

Você nunca caiu de um penhasco na vida, mas seu cérebro morre de medo só de olhar pra baixo. Por quê?

Porque, evolutivamente, quem ignorava o perigo da altura virava estatística genética. Sobrou pra nós o medo instalado no chip básico do ser humano.

 

- Receio de ser excluído do grupo?

Você sente vergonha, medo de rejeição, desconforto social?

Nada mais previsível: antigamente, ser excluído da tribo era sentença de morte. Sem o grupo, sem proteção, você era comida fácil pra predadores.

Hoje, ninguém mais te abandona na floresta se você errar no trabalho, mas o cérebro não atualizou o software. Continua reagindo como se seu chefe fosse um tigre-de-dente-de-sabre.

 

- Comer açúcar compulsivamente?

Antigamente, açúcar era raríssimo. Então, quando nossos ancestrais achavam frutas doces, comiam até não aguentar.

Hoje, o açúcar tá em tudo — e o cérebro ainda acha que deve atacar como se o próximo bombom fosse o último da história. Resultado? Estamos todos disputando quem vai pra fila da esteira primeiro.

 

- Tendência à preocupação exagerada?

Prever cenários negativos era essencial pra sobrevivência.

Melhor pensar que o barulho no mato é um predador do que um coelhinho fofo.

Hoje, o barulho é a notificação do celular — mas o cérebro ainda ativa o mesmo sistema de alerta ancestral.

 

A verdade crua:

 

Somos animais programados para sobreviver.

O problema é que sobrevivência hoje não exige mais fugir de leão.

Mas o cérebro, coitado, ainda funciona como se estivéssemos na savana africana.

 

Ele não entende que estamos em 2025, com plano de saúde, mercado 24h e protetor solar fator 60.

Ele continua reagindo como se cada olhar torto, cada dívida, cada dieta, cada atraso fosse uma ameaça mortal.

 

Então, da próxima vez que você achar que está tomando grandes decisões super racionais…

 

Lembre-se: pode ser só o script antigo rodando.

Pode ser só seu cérebro primitivo tentando te manter vivo — exagerando, sabotando, disparando alarmes desnecessários.

Com a melhor das intenções. E a pior das consequências.

 

Moral da história:

 

Você tem instintos? Sim.

Você tem programação automática? Sim.

Mas você também tem consciência.

 

E ser humano de verdade é parar de viver no modo animal automático — e começar a escolher.

Atualizar o software.

Respeitar sua natureza… sem ser escravo dela.

 

Porque ser livre não é fazer o que dá vontade.

É entender de onde vem a vontade — e escolher o que faz sentido de verdade.

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