25/02/2025 às 06h51min - Atualizada em 25/02/2025 às 06h51min

Medicamento genérico: O que dizem, o que sabemos e o que eu vejo na prática

Dr. Fernando Nader

Dr. Fernando Nader

Fernando Nader é médico, que tem entre suas formações, geriatria e neurologia.

Ah, a eterna discussão da farmácia: “Doutor, eu tomo só o de marca porque ele funciona melhor!” vs “Genérico é tudo igual, só muda o preço.”

 

Na teoria, o discurso é bonito: genérico tem o mesmo princípio ativo, mesma eficácia, e deve funcionar igual ao remédio de marca. Mas aí vem a parte que pouca gente gosta de admitir: na prática, muitas vezes o de marca funciona melhor. E eu vejo isso no consultório todo dia.

 

Mas por quê? Se é igual, não era pra ter diferença!

 

Pois é. Mas aqui vão alguns motivos que explicam por que, na vida real, o efeito do genérico às vezes deixa a desejar:

 

- Biodisponibilidade não é idêntica: O genérico tem que ter entre 80% e 125% da absorção do remédio original. Parece um intervalo pequeno, mas para alguns medicamentos, essa diferença faz sentido. Se o seu corpo absorve menos, o efeito pode ser mais fraco.

 

- Os excipientes (os ingredientes “extras”) são diferentes: O genérico tem o mesmo princípio ativo, mas os componentes que ajudam o corpo a absorver o remédio podem ser outros. Isso pode afetar a velocidade e a eficácia do medicamento.

 

- Controle de qualidade pode variar: O laboratório da marca já domina a fórmula há anos, enquanto os genéricos podem ter variações sutis na produção que impactam o resultado final.

 

- Medicamentos de ação específica são mais sensíveis: Psicofármacos (remédios para ansiedade, depressão, epilepsia), hormônios (anticoncepcionais, levotiroxina) e imunossupressores são mais “exigentes” com a dose exata. Uma pequena diferença na absorção pode ser suficiente para mudar o efeito.

 

Então genérico não presta?

 

Depende. Para alguns remédios, o genérico funciona muito bem. Se for um medicamento de uso ocasional, como um analgésico ou um anti-inflamatório, a chance de você notar diferença entre marca e genérico é pequena. Mas para medicamentos de uso contínuo, o de marca geralmente tem um desempenho mais estável.

 

No consultório, eu vejo isso acontecer o tempo todo:

 

- Paciente que usa antidepressivo e trocou para o genérico e, do nada, os sintomas voltaram.

- Quem usa remédio para tireoide e os exames descontrolaram ao mudar para o genérico.

- Quem toma anticoncepcional e começou a ter escapes depois da troca.

 

Ou seja: na prática, o genérico é seguro e tem seu valor, mas não dá pra fingir que ele funciona 100% igual em todos os casos.

 

O que fazer então?

 

- Se seu medicamento é de uso contínuo e você sente diferença entre marca e genérico, converse com o médico. Pode valer a pena insistir no de marca para evitar variações no efeito.

 

- Se o genérico funciona bem para você, continue! Tem muita gente que usa há anos e não sente nenhuma diferença.

 

- Para remédios pontuais, como dipirona ou anti-inflamatório, o genérico resolve tranquilamente.

 

- Se for trocar, fique atento aos sintomas. Qualquer mudança no seu corpo pode ser um sinal de que a nova versão não está funcionando tão bem.

 

Quem decide é o seu corpo

 

O genérico não é ruim – ele é uma alternativa mais acessível e funciona muito bem para muitas pessoas. Mas dizer que ele é sempre idêntico ao de marca é ignorar o que vemos na prática.

 

Se você já trocou o remédio e percebeu que algo mudou, não é “coisa da sua cabeça”. O efeito pode sim ser diferente. E no fim das contas, o que importa não é o nome na caixa, mas como o seu corpo responde.

 

Porque, no final, remédio bom é aquele que faz efeito. E se o de marca faz mais por você, talvez valha a pena pagar a diferença. Seu corpo não entende de economia – ele só quer funcionar direito

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