13/11/2024 às 14h32min - Atualizada em 13/11/2024 às 14h32min

Do Mau Humor à Fibromialgia: Quando o Corpo Paga a Conta

Dr. Fernando Nader

Dr. Fernando Nader

Fernando Nader é médico, que tem entre suas formações, geriatria e neurologia.

Se você já foi meu paciente já me ouviu falar: “5 minutos de negatividade é igual a 5 horas de imunidade baixa! “ Vou explicar melhor o porque falo isso…

Imagine um dia em que tudo parece dar errado. Desde o café da manhã que queima até o trânsito que parece conspirar contra você. A negatividade vai crescendo, e com ela, sem que a gente perceba, nosso corpo também começa a reagir de uma maneira nada sutil. O que poucos sabem é que, quando nossa mente está imersa em estresse e pensamentos negativos, o corpo entra em ação, liberando um hormônio conhecido como cortisol, o “hormônio do estresse”. Ele não apenas reflete nosso estado mental, mas também desencadeia uma série de reações que podem transformar até pequenos problemas em grandes dramas biológicos.

 

O cortisol, que em doses moderadas até nos ajuda a responder a emergências, vira o vilão em níveis elevados e constantes. Ele começa a afetar o metabolismo de maneiras inesperadas, como na regulação da glicose. Sabe aquela história de que precisamos de energia extra para enfrentar uma “ameaça”? Pois bem, o cortisol acredita piamente nisso e manda um recado para o fígado: “libere mais glicose no sangue!” Em tempos primitivos, isso fazia sentido: precisávamos de energia para fugir de predadores. Hoje, o nosso “perigo” é um e-mail urgente ou aquele chefe que faz nossa paciência esgotar. E o resultado? Um excesso de glicose que, em doses contínuas, pode levar à hiperglicemia e contribuir até para ganho de peso. Ou seja, a negatividade nos deixa com o doce amargo do estresse, literalmente.

 

Mas o estrago do cortisol não para por aí. Esse hormônio também adora bagunçar o sistema imunológico. Ao alterar a forma como as células de defesa se comunicam, ele reduz nossa capacidade de responder a vírus, bactérias e outras ameaças reais. Curiosamente, o efeito do cortisol nas células imunológicas é bastante semelhante ao que ocorre nas células nervosas: ele bloqueia a “conversa” entre elas, o que enfraquece nossa imunidade. E isso nos transforma em alvos fáceis para infecções, resfriados e até doenças autoimunes, criando um ciclo vicioso em que a saúde fragilizada acaba gerando mais estresse, e o estresse agrava ainda mais a saúde. A negatividade vai, literalmente, atraindo mais negatividade para o corpo.

 

Como se não bastasse o efeito na glicose e na imunidade, o cortisol também afeta nossos músculos. A liberação constante desse hormônio mantém o corpo em um estado de alerta exagerado, gerando uma tensão muscular que, com o tempo, se acumula e se transforma em dor crônica. E aqui entra a fibromialgia, uma condição que atinge milhões de pessoas e que está fortemente associada ao estresse. A tensão acumulada faz com que os músculos, ao invés de relaxarem, fiquem cada vez mais rígidos, como se estivessem sempre prontos para uma luta que nunca chega. Quem sofre de fibromialgia sabe bem: é um cansaço profundo, uma dor que parece ter tomado conta do corpo todo, como se a negatividade tivesse se materializado nos músculos.

 

No fim das contas, aquela frase “pensamento positivo atrai coisas boas” tem um fundo bem real. A negatividade não só afeta nosso humor, mas literalmente transforma nosso corpo em um palco de reações químicas que nos fazem sentir pior, enfraquecendo nossa imunidade, alterando nosso metabolismo e até provocando dor. Quem diria que o corpo faria esse escândalo todo só porque deixamos o mau humor e o estresse tomarem conta? Talvez um sorriso ou uma pausa para o bom humor realmente sejam melhores remédios do que a gente imagina. Afinal, se a negatividade tem todo esse poder, quem sabe o que uma dose de positividade não poderia fazer por nós?

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