21/11/2024 às 11h44min - Atualizada em 21/11/2024 às 11h44min

Violência contra médicos: Uma triste realidade

Dr. Fernando Nader

Dr. Fernando Nader

Fernando Nader é médico, que tem entre suas formações, geriatria e neurologia.

Reprodução

Eu já ouvi muita coisa no consultório. Reclamações, desabafos, até uns desaforos velados. Faz parte da nossa profissão lidar com as emoções à flor da pele de quem nos procura – afinal, ninguém chega ao médico sem estar fragilizado. Mas o que aconteceu com o médico Edvandro Gil Braz, esfaqueado enquanto fazia seu trabalho em Douradina (MS), no dia 18 de novembro de 2024, vai muito além do que alguém pode ou deve suportar. É inaceitável. E é hora de falarmos sobre isso.

 

Quem olha de fora pode até achar que o médico vive um pedestal de reconhecimento, respeito e gratidão. A realidade? Longe disso. Muitas vezes, somos aquele “último recurso” – e, como tal, carregamos as frustrações de uma sociedade doente em vários sentidos. Quando faltam medicamentos, vagas ou respostas rápidas, é na nossa cara que vem o peso do desespero. E, em casos como esse, essa tensão se transforma em algo impensável: violência.

 

A história do Dr. Edvandro não é única. Infelizmente, temos visto um aumento nos casos de agressões a profissionais da saúde. Médicos esfaqueados, ameaçados, agredidos verbalmente. E não falo só de ataques físicos, mas também daquela violência silenciosa que corrói: a falta de estrutura, o desprezo por quem está na linha de frente e, claro, a impunidade para quem extrapola.

 

O que me parte o coração é que quem vive na linha de frente não tem escolha: seguimos atendendo. Fazemos isso porque acreditamos no que fazemos, mesmo que, às vezes, o cenário nos teste até o limite. Só que ninguém deveria pagar com a própria vida pelo simples fato de fazer o seu trabalho. E, convenhamos, cobrar humanidade de quem está cuidando da sua própria é o mínimo.

 

Mas há uma verdade desconfortável: a raiz dessa violência vai além do consultório. Estamos falando de uma sociedade onde o desrespeito virou moeda de troca, onde o diálogo perdeu espaço e a paciência está em extinção. Não são só os médicos que estão no alvo, mas todos que representam algum tipo de limite, como professores, enfermeiros, motoristas. Então, a pergunta é: até quando vamos normalizar isso?

 

Se você acha que exagero, pense no impacto dessa violência no sistema de saúde. Quem é que vai querer trabalhar em um ambiente onde a vida está em risco? Onde cada plantão pode terminar em tragédia? A insegurança afasta bons profissionais e, no fim das contas, é a população que perde.

 

É urgente que algo seja feito. Precisamos de segurança, sim, mas também de mais empatia, mais educação e menos pressa para atacar quem está tentando ajudar. Porque, no fim do dia, o médico está ali para cuidar – mas quem cuida também precisa de cuidado.

 

Que o caso do Dr. Edvandro seja um alerta, não apenas uma manchete. A vida de quem salva vidas também é sagrada. E, para quem acredita que o respeito está em falta no mundo, aqui vai um lembrete: um “muito obrigado” ainda tem um poder enorme. Respeitar é a primeira forma de cuidar.

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